Foi seguindo a tradição de
priorizar suas apresentações em eventos privados, como forma de comunicação com
a sociedade, que um dos membros do dito comitê gestor do E-SOCIAL confirmou na
última quinta (27) o que vinha sendo ventilado em redes sociais e nos
bastidores de empresas do software: Um novo e desfigurado E-SOCIAL será
formalizado em dezembro.
As novidades foram adiantadas em uma palestra realizada na sede da AMPRO – Associação de Marketing Promocional em São Paulo, pelo Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil e Coordenador do Projeto, Daniel Belmiro Fontes, que também adiantou que o tão esperado manual já está na Casa Civil para ser aprovado e publicado; assim, tudo indica que em breve, saberemos exatamente o que o governo quer com o E-SOCIAL, saindo do mundo especulativo das palestras teóricas e sem muita precisão, podendo montar um plano de treinamentos consistente, que é o ponto que realmente faz a diferença para quem vai lidar no dia a dia.
De acordo com a matéria do site RHevista RH, foram
retirados do E-SOCIAL os eventos:
1. Estabilidade;
2. Serviços Tomados Mediante
Cessão de Mão de Obra;
3. Serviços Prestados Mediante
Cessão de Mão de Obra;
4. Serviços Tomados de
Cooperativas de Trabalho;
5. Serviços Prestados por
Cooperativa de Trabalho;
6. Aquisição de Produção Rural;
7. Comercialização da Produção,
8. Recursos Recebidos ou
Repassados para Associação Desportiva que mantém equipe de Futebol
Profissional;
9. Desoneração da Folha de
Pagamento;
10. Informações Complementares
para o Simples Nacional;
11. Atividades Concomitantes;
12. Contratação de Trabalhadores
Avulsos Não Portuários.
http://www.rhevistarh.com.br/portal/?p=12906
Em relação a esses eventos, esqueça o que foi dito em palestras e cursos até o momento. O que foi investido em programação de sistemas, para aplicação no E-SOCIAL considerando o modelo previsto para os referidos eventos, também se perdeu, porque idéia agora é criar uma nova Escrituração Fiscal Digital (EFD) para compor as informações fiscais, o que indica uma troca de modelo operacional, para quem conhece o Sped. E partindo das premissas do projeto E-SOCIAL, que não pretendia criar mais nenhuma nova obrigação, a “solução” encontrada é mais uma incoerência, entre tantas.
Essa mudança radical tinha sido comentada em círculos ligados a empresas de software, ainda em meados do mês passado e serve de exemplo, de como as palestras que exploraram a temática do E-SOCIAL, estavam muito mais no campo especulativo, que propriamente técnico, preciso, definido. Além do mais, quem testemunhou algumas das palestras dos gestores em 2013 e até mesmo neste ano, lá no Fórum de Porto Alegre, por exemplo, e agora ver a forma como as coisas estão sendo finalizadas, aprendeu a lição de que o marketing e a precipitação tomaram conta do tema E-SOCIAL, que começou a dar sinais negativos, trazendo consigo um histórico de dois leiautes (1.0 e 1.1) aprovados estranhamente, e que sequer foram aplicados.
A mudança também representa o fim de uma proposta de um E-SOCIAL baseado em uma integração de dados super sofisticada, sem pé nem cabeça, considerando a realidade de empresas e escritórios contábeis, e que só caberia mesmo em mentes amplificadas por idéias de marqueteiros que sabem ensinar a vender muito bem uma coisa inacabada, incompleta, embora o discurso no pedestal seja bem diferente. E diante disso, o que dizer aos que gastaram tempo e recursos financeiros na busca de soluções de desenvolvimento em software, em programação, reformulações de bancos de dados, para os eventos que foram sumariamente retirados? Então, não é mais assim, e pronto? Infelizmente, sim.
Acontece que desenvolvimento de
programas de computador não é uma brincadeira de excluir slides, ou montar
animações para palestras de conscientização em tardes de autógrafos regadas a
sessões de selfes. Programar é um trabalho muito complexo, de anônimos heróis
que, juntamente com profissionais de treinamentos, gestores de DP, RH, SESMT,
consultores, entre outros, “fazem a coisa acontecer”, que exige firmeza nos
projetos, não permitindo certas indefinições e imprecisões, tão comuns na
presente condução do E-SOCIAL. Dou graças a Deus por ter uma formação de
programador, que juntamente com a de instrutor, me permitiu ter uma visão mais
crítica desse projeto, que será formalizado por um ato da Presidência da
República, sendo apenas uma sombra do que foi idealizado, depois de exatos
cinco anos daquela primeira apresentação datada em dezembro de 2009, onde até
então era a evolução natural do MANAD. E não podia ser diferente: Com um modelo
de gestão desastroso, sem transparência pública adequada em relação à sua
importância, onde informações de interesse coletivo ficaram quase sempre
dispostas em eventos privados, restritos, em detrimento dos canais oficiais,
raramente utilizados por um projeto cuja gestão se negou a disponibilizar as
atas das reuniões, assim como eventuais notas técnicas ao público em geral,
deixando a maioria dos desenvolvedores imaginando coisas meio que às cegas, de
mãos atadas.
Os gestores do E-SOCIAL adotaram
um conceito de “ouvir a sociedade” resumido na montagem de um grupo
confederativo (encabeçado pelo CFC e pela Fenacon), promovendo reuniões que
pouco informaram ao público em geral, em termos de dados técnicos, nos seis
encontros realizados. As notícias se limitavam normalmente a falar de forma
superficial sobre discussões acerca dos
leiautes e do cronograma, em meio versões (dos leiautes) tipo beta que surgiam
na internet cujas fontes não eram oficiais. Os grandes prejudicados foram
novamente os desenvolvedores de software que ficaram de fora dos trabalhos,
quando o que esperavam apenas era algo mais substancial, com ênfase objetiva,
em materiais, mesmo que fossem parciais, que pudessem ser disponibilizados sem
maiores dificuldades no site do projeto (por que não?) e jamais isso ocorreu,
após a publicação da versão 1.1 dos leiautes. Esse comportamento dos gestores
jamais será aceito como compatível com a missão de transparência pública que lhes
cabe.
O que se conclui disso tudo é
que o dito comitê do E-SOCIAL dificultou bastante o acesso à informação ao
mesmo tempo em que tentou passar a imagem de que as instituições
representativas convidadas (desde o advento do Sped) estavam no papel de instrumentos
para uma autêntica democratização do debate em torno das questões cruciais do
Projeto, o que não foi exatamente o que aconteceu, tanto que o ministro das
MPEs, Guilherme Afif Domingos acabou promovendo uma CONSULTA PÚBLICA, para que
as opiniões chegassem de forma mais democrática.
Na prática, a CONSULTA PÚBLICA
foi proveitosa porque driblou as conveniências políticas das entidades
componentes do referido grupo., enquanto que o dito comitê seguiu firme em seus
equívocos, sob a presença pouco elucidativa das entidades do GT que deveriam
ter se manifestado de forma mais contundente naquele espaço, e pelo visto nas
declarações e matérias divulgada ao público, não foi possível ver um debate
rico no sentido de propostas e negociações: CFC e Fenacon, ao meu ver, foram
instituições que “pisaram na bola”, talvez, penso, por lhes faltarem uma
cultura política mais arrojada e independente, certamente por estarem sob uma
certa acomodação em meio a interesses mais comerciais com grandes empresas de
software que as patrocinam em eventos pelo Brasil afora. Enfim, o que quero
dizer com tudo isso, é que o cenário não era mesmo propício para uma
participação efetivamente democrática
na construção do E-SOCIAL, que acabou sendo apenas um fruto dessa
imaturidade coletiva.
Após o batimento dos leiautes, a
grande expectativa agora é pelo cronograma. Segundo um documento liberado
recentemente, se estima que o eSocial
comece a sair do papel em 2015, para testes (março para MPEs), e que no decorrer
de 2016 possa ser uma realidade a todos os empregadores, mas dará certo? É uma
grande incógnita que só o tempo dirá. Creio que não devemos nos preocupar com
isso, e sim o governo, que inventou o E-SOCIAL.
E-SOCIAL. Módulo para MPEs deve ter período de testes entre MARÇO de 2015 e FEVEREIRO de 2016
Segundo
um documento enviado pelo email marcelo.pacheco@planalto.gov.br
Documento
em PDF: http://www.llconsult.com.br/nll/2014/n1400262.pdf
Já no material oficial
disponibilizado no site www.esocial.gov.br:
http://www.esocial.gov.br/doc/ApresentacaoPadraoeSocial.pdf
Na mesma matéria postada no site
do site RHevista RH , se informa o seguinte:
Para finalizar, Daniel Belmiro, informou o seguintes cronograma para o eSocial:
Dezembro
2014: Publicação da Portaria e disponibilização do Manual;
Seis
meses após: Liberação do ambiente para testes por todas as empresas;
Janeiro
2016: Envio oficial dos arquivos por empresas com faturamento igual ou acima de
78 milhões.
Meados
de 2016: Envio oficial dos arquivos por empresas com faturamento igual ou acima
de 3,6 milhões.
Ainda sobre a implantação, o
quanto será estressante, não há como estimar, mas como estamos diante de um
projeto repleto de falhas de gestão, além de ter um modelo operacional complexo
para os nossos padrões culturais administrativos, não há como garantir
absolutamente nada, exceto que teremos um grandioso desafio para adaptação.
Para finalizar, entendo que o
E-SOCIAL poderia estar em operação nesse momento, se a opção de implantação
fatiada tivesse sido adotada, sendo usado inicialmente para eliminar aberrações
como a que foi feita com o CAGED Diário e o próprio CAGED Mensal, servindo
também ao Seguro-Desemprego. Sugeri algo assim na CONSULTA PÚBLICA, destinada
às MPEs, porém, essa proposição não fará parte desse novo E-SOCIAL, que vem
tímido, acanhado, desfigurado e que mais parece uma coisa sabotada pelos seus
próprios idealizadores.
Ocorrendo a publicação desse
material agora em dezembro, estarei iniciando o primeiro evento em FEVEREIRO,
que será um curso envolvendo o aprofundamento de questões tributárias e a
parametrização dos cadastros iniciais, além da implementação de modelos de
análise de conformidade, destinado a orientar melhor os clientes dos
escritórios de contabilidade, além de gestores de empresas e instituições em
geral.
Vitória
de Santo Antão (PE), 29 de novembro de
2014.