DUAS DÉCADAS E MUITAS LIÇÕES

 

Este texto é dedicado a contabilista Eliane de Moraes Amorim e ao Sr. Edílson Soares de Amorim (in memoriam)

 

Postado por Leonardo Amorim em 18/12/2012 14:58

 

Atualizado por Leonardo Amorim em 19/12/2012 08:50

 

 

O ano era 1990; foi quando comecei profissionalmente a fornecer meu sistema de folha de pagamento. Era dezembro. Na época, não existia internet, pelo menos para o público leigo; Web era coisa de acadêmico que tinha estudado na Europa ou nos EUA. O sistema operacional mais usado era o DOS 3.1 e o Windows era uma aplicação desconhecida que se acionava pela linha de comando do MS-DOS. Quase ninguém usava. Os sistemas contábeis eram desenvolvidos, na maioria, em Clipper, Cobol, C ou Dbase. Para desligar o computador, tínhamos que acionar o Park e conferir os backups em disquete.

 

Ainda em 1986, Dona Eliane e “Dilsinho”, com muito esforço financeiro, colocaram seus dois filhos para estudar programação no Recife: era o Basic e o Cobol; o computador da moda era o CP500 e ainda haviam os resquícios dos cartões perfurados. O leque se abriu, vieram estudos sobre o Dbase e o Clipper, além do NetWare (Novell), coisas que eles nem entendiam, mas sabiam que poderia dar bons frutos.

 

Em 1990, consegui meu primeiro emprego e o primeiro computador pessoal; tinha acabado de completar 16 anos de idade, empolgado, programando em Clipper Summer 87  e em C, utilizando um XT com HD de 10Mb e 640Kb de memória RAM que “Dilsinho” fora buscar comigo na casa de Bertulucci, lá em Jardim São Paulo (naquela época, computador moderno era um objeto caro, e de difícil acesso).

 

Um ano depois assumi o papel de programador na empresa que começara como digitador em 1990, e dei continuidade às manutenções nos sistemas de controle de estoque, financeiro e convênios da Papelaria e Livraria Universal Ltda, enquanto continuava estudando minha folha de pagamento em casa, no moderníssimo XT.

 

Voltando a 1987, aos 12 anos de idade, lembro-me bem de Dona Eliane com relatórios contábeis da Norte Comercial Ltda, na mesa de casa, conciliando as movimentações financeiras. Era um tal de débito, crédito e saldo. Aquilo me chamava a atenção e comecei a estudar o mecanismo de contabilização. Em 1991, cheguei a fazer um programa para auxiliar a conciliação e vendi para a empresa onde ela trabalhava. Foi engraçado ver o rosto dos colegas de trabalho dela, na Norte Comercial, vendo aquele rapazinho entrando no CPD para implantar um programa que seria usado pelo sobrinho de Sr. Zezito...

 

Foi em 1990, com um AT386 (o XT já estava superado), que concluí rotinas com aplicação profissional, na Universal. Mais adiante, conheci anunciando pelo jornal, um experiente contador que usava a folha da RM  (Edmilson) e um outro encarregado de DP (Regis) que tinha usado o Persona e que agora estava com a folha da Exactus (que já naquela época, era uma marca conhecida pelos veteranos). Edmilson, que estava abrindo seu próprio escritório (Esecon),  topou usar a minha folha, semelhantemente a um empresário jovem do Recife (Alexandre, da Papecópia), que já naquela época achava melhor ter o departamento pessoal na própria empresa. Regis ficou com a folha da Exactus, contudo, me deu algumas dicas importantes.

 

O nome SEIFolha foi uma provocação. Um dos meus ex-patrões discutiu com o seu sócio porque tinha me colocado como programador. “Esse menino de 16 anos é verde e não sabe de nada”, disse na época. Fiquei indignado, mas quando recebi elogios dos primeiros clientes da folha, não pensei duas vezes, o nome do sistema será “SEIFolha”.

 

As experiências foram se multiplicando: em dezembro de 1993, desenvolvi um sistema de pedidos, controles de embarques, contas a pagar, contas a receber, cheques e contas correntes, para a Mapa Representações, que até hoje é utilizado, com poucas alterações.

 

Em 1994, contrariando as expectativas, resolvi trilhar o caminho das “ciências econômicas”, enquanto continuava a procura de novos clientes. De boca em boca, o telefone tocava, clientes chegavam e um certo dia, na semana seguinte do Brasil ter conquistado a Copa do Mundo nos pênaltis, um rapaz chamado Aristides (hoje, um conhecido advogado), na época, sócio de Sr. Osires, de Vitória de Santo Antão, me convidou para apresentar a folha. Era julho; encaminhou-me ao escritório de Dona Leonira. Eu suava que nem uma chaleira e fui demonstrando o sistema com Júnior se esforçando para não rir do meu nervosismo, mas perceberam que o sistema era bom. A Contel – Contabilidade Trabalhista – acabou sendo o primeiro escritório contábil de Vitória de Santo Antão, a investir em um sistema feito por “um menino de Recife”, sendo o meu cliente de Folha mais antigo em atividade.

 

Em 1995 tive a oportunidade de conhecer Adonias (Pavane) que com sua experiência trazida de grandes empresas, me ajudou a aperfeiçoar conceitos sobre a folha. Foi mais um grande aprendizado ter convivido profissionalmente com ele por mais de 10 anos à frente de um DP cheio de casos complexos. Em uma experiência notável, Adonias, depois de alguns anos trabalhando comigo, recebeu a indicação para trocar o meu sistema pelo da RM, e ele foi taxativo: “o sistema de Leonardo não deve em nada ao da RM”, e isto ele falou com a experiência de quem tinha passado por umas das escolas mais rigorosas: o Bompreço.

 

Em 1998, o SEFIP foi lançado, substituindo o REMAG. Fui um dos primeiros a importar arquivos da FOLHA em Pernambuco. Os disquetes eram entregues nas agências da CAIXA ou nas lotéricas. Mais tarde, surgiu a Conectividade Social, com a explosão da internet.

 

No ano 2000 conheci Ivan e firmamos uma parceria.  A carteira de clientes continuou aumentando e passei a atuar intensamente na parte contábil e fiscal. Fui testemunha de escritórios que começaram com um birô, um computador e uma impressora, e que hoje são enormes. Sinto-me realizado ao ver que participei desse processo de crescimento.

 

Ainda no ano 2000, percebi que estava dando um suporte diferente das outras empresas que vendiam “soluções enlatadas”. Atuava aconselhando, ensinando outros sistemas oficiais (RAIS, CAGED, DIRF, SEFIP,etc).  Depois vieram o SEF, o MANAD, o COFIS, com suporte a todos estas obrigações acessórias. Onde o suporte das empresas de grife parava, eu continuava. Esta coisa de “não é comigo” não faz parte da agenda de atendimento, ou o famoso “ligue para o 0800”, que denota um escapismo, jamais foi o tom dos trabalhos.

 

Em 2006, lancei o site www.llconsulte.com.br. Foi para me comunicar melhor com os clientes. Resolvi compartilhar algumas coisas que faço no dia-a-dia, entre pesquisas e leituras sobre problemas nas áreas de interesse. Resultado: o site acabou alcançando pessoas que não são usuárias de nossos sistemas.

 

Com o advento do SPED, a parte contábil se tornou mais presente nos clientes em que o suporte ao Infrasoft é de minha responsabilidade e com a popularização da internet, percebi novos ares. Fui amadurecendo até que, neste ano, depois de muitas idas e vindas, entendi que a parte de tecnologia dos sistemas deveria ser encaminhada para uma empresa forte e com estrutura, para trabalharmos em parceria; convites foram chegando, mas foi na Exactus que encontrei o caminho, uma empresa que tinha visto um sistema de folha, ainda em 1992. Atualmente com 42 anos de estrada, a Exactus, brevemente conhecida por aquele jovem de 17 anos, é um referencial e fazer parte dela, como representante, 20 anos depois, é uma agradável coincidência. Uma das coisas que fazem a Exactus ser uma empresa diferenciada é entender a situação de cada representante, sem impor exigências que só seriam boas para um lado. Então, vamos conviver em perfeita sincronia, implantando a Linha TOP for Windows e mantendo normalmente o SEIFolha e o Infrasoft, deixando a decisão de usar cada sistema, para os clientes.

 

Nestes 20 anos de caminhada, aprendi que sistemas são realmente bons, se forem adequadamente parametrizados e bem operados por pessoal qualificado. Não adianta ter um sistema avançado, sem recursos humanos para compreende-lo e domina-lo. O melhor exemplo que tenho é de um escritório que recentemente me procurou e que desde 1998, já trocou cinco vezes de sistema e que somente agora, aprendeu que, o problema central não estava nos sistemas, e sim na falta de humildade em reconhecer que os colaboradores e o proprietário estavam precisando mesmo era de uma reciclagem geral.

 

O que lamento é o “marketing de guerrilha” (termo usado por Dr. Romeu, da Exactus, para empresas que agridem suas concorrentes). No meu contexto, “marketing de guerrilha” tem acontecido quando algumas empresas de softwares contábeis, com poucos anos de estrada; aproveitando a busca pela qualificação de muitos escritórios, prometem  soluções rápidas e mirabolantes, desdenhando nossos produtos (que falta de ética!), quando na verdade, o que vai resolver mesmo é o conhecimento aplicado pelo capital humano bem firmado e o trabalho árduo de quem usa os sistemas, de quem dá o suporte e de quem desenvolve. Não existe solução mágica. Muitas dessas empresas de tecnologia, exploram o desconhecimento sobre o SPED para disseminar inverdades, e o resultado tem sido somente este: decepção entre o que foi prometido e o que está sendo realizado.  Muitas decepções são causadas pela ingenuidade de alguns que acreditam que um sistema “vai fazer quase tudo sozinho”, mas quando se deparam com a realidade de que é preciso haver um entendimento sobre os fundamentos da contabilidade, esbarram em si mesmos.

 

É preciso, antes de tudo, acabar com o medo de ter colaboradores qualificados; falo em medo ao ouvir de um contador que “não se deve dar asas às cobras”, como se um profissional bem qualificado fosse sinônimo de ameaça para o escritório por pensar que “ele vai querer abrir um escritório depois e levar os meus clientes, então prefiro os que não sabem quase de nada”. Discordo totalmente dessa linha de raciocínio e não quero dizer com isso que os inexperientes não devem ser aproveitados; eles devem ter oportunidades ao lado de quem possa transmitir experiências sob um projeto bem definido de escritório.

 

Outro fator que atrapalha o desenvolvimento de um escritório contábil está na falta de reconhecimento ao talento: é preciso repensar a política salarial e a distribuição de lucros, para incentivar o profissional qualificado a produzir cada vez mais com eficiência. Escritório que paga bem e que tem idéias inovadoras sobre “reconhecimento de produtividade” irá tomar a ponta nesta era de tecnologias intensamente desejadas, onde o diferencial estará em quem estiver dominando os saberes.

 

Para finalizar: é preciso parar com essa “neura” de achar que “tudo é o sistema”. Fiquei feliz ao ver um profissional de recursos humanos submeter alguns candidatos a testes com cálculos manuais de rotinas contábeis, fiscais e trabalhistas. Os candidatos foram pegos de surpresa porque achavam que os conhecimentos que tinham sobre alguns sistemas famosos e badalados, seria o fator determinante. Muitos especialistas em “sistemas de grife” foram reprovados quando tiveram que ir para a “ponta do lápis”. Sábia decisão do analista de recursos humanos, pois acabou achando profissionais que sabem dos fundamentos e não apenas de produtos tecnológicos, por mais sofisticados que sejam.

 

Moral da história: um sistema é apenas uma parte de uma engrenagem bem maior que faz um escritório funcionar corretamente; é uma ferramenta de trabalho, que juntamente com o intelecto de cada colaborador, poderá compor uma equipe de muito sucesso. É neste ponto que alerto sobre o cuidado que precisamos ter com o marketing das empresas de softwares...

 

Então, este aprendizado profissional de duas décadas só foi possível porque Dona Eliane e “Dilsinho” tiveram a ousadia, apesar de tantas dificuldades e provações, de acreditar em um futuro melhor e se doaram, sacrificando muitos de seus prazeres pessoais para investir na formação dos filhos. É neste exemplo de vida que me esforço para ser o que eles foram para mim e meu irmão.

 

Ao completar 20 anos no mercado, devo esta conquista primeiramente a Deus e em seguida, aos meus pais, Dona Eliane e Dilsinho.

 

A quem honra, honra!

 

Soli Deo gloria,

 

Feliz Natal!

 

Feliz 2013!

 

Leonardo Amorim.

 

 

 

LLConsulte Soli Deo gloria