DUAS
DÉCADAS E MUITAS LIÇÕES
Este texto é dedicado a contabilista Eliane
de Moraes Amorim e ao Sr. Edílson Soares de Amorim (in memoriam)
O
ano era 1990; foi quando comecei profissionalmente a fornecer meu sistema de
folha de pagamento. Era dezembro. Na época, não existia internet, pelo menos
para o público leigo; Web era coisa de acadêmico que tinha estudado na Europa
ou nos EUA. O sistema operacional mais usado era o DOS 3.1 e o Windows era uma
aplicação desconhecida que se acionava pela linha de comando do MS-DOS. Quase
ninguém usava. Os sistemas contábeis eram desenvolvidos, na maioria, em
Clipper, Cobol, C ou Dbase. Para desligar o computador, tínhamos que acionar o
Park e conferir os backups em disquete.
Ainda
em 1986, Dona Eliane e “Dilsinho”, com muito esforço financeiro, colocaram seus
dois filhos para estudar programação no Recife: era o Basic e o Cobol; o
computador da moda era o CP500 e ainda haviam os resquícios dos cartões
perfurados. O leque se abriu, vieram estudos sobre o Dbase e o Clipper, além do
NetWare (Novell), coisas que eles nem entendiam, mas sabiam que poderia dar
bons frutos.
Em
1990, consegui meu primeiro emprego e o primeiro computador pessoal; tinha
acabado de completar 16 anos de idade, empolgado, programando em Clipper Summer
87 e em C, utilizando um XT com HD de
10Mb e 640Kb de memória RAM que “Dilsinho” fora buscar comigo na casa de
Bertulucci, lá em Jardim São Paulo (naquela época, computador moderno era um
objeto caro, e de difícil acesso).
Um
ano depois assumi o papel de programador na empresa que começara como digitador
em 1990, e dei continuidade às manutenções nos sistemas de controle de estoque,
financeiro e convênios da Papelaria e Livraria Universal Ltda, enquanto
continuava estudando minha folha de pagamento em casa, no moderníssimo XT.
Voltando
a 1987, aos 12 anos de idade, lembro-me bem de Dona Eliane com relatórios
contábeis da Norte Comercial Ltda, na mesa de casa, conciliando as
movimentações financeiras. Era um tal de débito, crédito e saldo. Aquilo me
chamava a atenção e comecei a estudar o mecanismo de contabilização. Em 1991,
cheguei a fazer um programa para auxiliar a conciliação e vendi para a empresa
onde ela trabalhava. Foi engraçado ver o rosto dos colegas de trabalho dela, na
Norte Comercial, vendo aquele rapazinho entrando no CPD para implantar um
programa que seria usado pelo sobrinho de Sr. Zezito...
Foi
em 1990, com um AT386 (o XT já estava superado), que concluí rotinas com
aplicação profissional, na Universal. Mais adiante, conheci anunciando pelo
jornal, um experiente contador que usava a folha da RM (Edmilson) e um outro encarregado de DP
(Regis) que tinha usado o Persona e que agora estava com a folha da Exactus
(que já naquela época, era uma marca conhecida pelos veteranos). Edmilson, que
estava abrindo seu próprio escritório (Esecon), topou usar a minha folha, semelhantemente a um empresário jovem do
Recife (Alexandre, da Papecópia), que já naquela época achava melhor ter o
departamento pessoal na própria empresa. Regis ficou com a folha da Exactus,
contudo, me deu algumas dicas importantes.
O
nome SEIFolha foi uma provocação. Um dos meus ex-patrões discutiu com o seu
sócio porque tinha me colocado como programador. “Esse menino de 16 anos é
verde e não sabe de nada”, disse na época. Fiquei indignado, mas quando recebi
elogios dos primeiros clientes da folha, não pensei duas vezes, o nome do
sistema será “SEIFolha”.
As
experiências foram se multiplicando: em dezembro de 1993, desenvolvi um sistema
de pedidos, controles de embarques, contas a pagar, contas a receber, cheques e
contas correntes, para a Mapa Representações, que até hoje é utilizado, com
poucas alterações.
Em
1994, contrariando as expectativas, resolvi trilhar o caminho das “ciências
econômicas”, enquanto continuava a procura de novos clientes. De boca em boca,
o telefone tocava, clientes chegavam e um certo dia, na semana seguinte do
Brasil ter conquistado a Copa do Mundo nos pênaltis, um rapaz chamado Aristides
(hoje, um conhecido advogado), na época, sócio de Sr. Osires, de Vitória de
Santo Antão, me convidou para apresentar a folha. Era julho; encaminhou-me ao
escritório de Dona Leonira. Eu suava que nem uma chaleira e fui demonstrando o
sistema com Júnior se esforçando para não rir do meu nervosismo, mas perceberam
que o sistema era bom. A Contel – Contabilidade Trabalhista – acabou sendo o
primeiro escritório contábil de Vitória de Santo Antão, a investir em um
sistema feito por “um menino de Recife”, sendo o meu cliente de Folha mais
antigo em atividade.
Em
1995 tive a oportunidade de conhecer Adonias (Pavane) que com sua experiência
trazida de grandes empresas, me ajudou a aperfeiçoar conceitos sobre a folha.
Foi mais um grande aprendizado ter convivido profissionalmente com ele por mais
de 10 anos à frente de um DP cheio de casos complexos. Em uma experiência notável,
Adonias, depois de alguns anos trabalhando comigo, recebeu a indicação para
trocar o meu sistema pelo da RM, e ele foi taxativo: “o sistema de Leonardo não
deve em nada ao da RM”, e isto ele falou com a experiência de quem tinha
passado por umas das escolas mais rigorosas: o Bompreço.
Em
1998, o SEFIP foi lançado, substituindo o REMAG. Fui um dos primeiros a
importar arquivos da FOLHA em Pernambuco. Os disquetes eram entregues nas
agências da CAIXA ou nas lotéricas. Mais tarde, surgiu a Conectividade Social,
com a explosão da internet.
No
ano 2000 conheci Ivan e firmamos uma parceria.
A carteira de clientes continuou aumentando e passei a atuar
intensamente na parte contábil e fiscal. Fui testemunha de escritórios que
começaram com um birô, um computador e uma impressora, e que hoje são enormes.
Sinto-me realizado ao ver que participei desse processo de crescimento.
Ainda
no ano 2000, percebi que estava dando um suporte diferente das outras empresas
que vendiam “soluções enlatadas”. Atuava aconselhando, ensinando outros
sistemas oficiais (RAIS, CAGED, DIRF, SEFIP,etc). Depois vieram o SEF, o MANAD, o COFIS, com suporte a todos estas
obrigações acessórias. Onde o suporte das empresas de grife parava, eu
continuava. Esta coisa de “não é comigo” não faz parte da agenda de
atendimento, ou o famoso “ligue para o 0800”, que denota um escapismo, jamais
foi o tom dos trabalhos.
Em
2006, lancei o site www.llconsulte.com.br.
Foi para me comunicar melhor com os clientes. Resolvi compartilhar algumas
coisas que faço no dia-a-dia, entre pesquisas e leituras sobre problemas nas
áreas de interesse. Resultado: o site acabou alcançando pessoas que não são
usuárias de nossos sistemas.
Com
o advento do SPED, a parte contábil se tornou mais presente nos clientes em que
o suporte ao Infrasoft é de minha responsabilidade e com a popularização da
internet, percebi novos ares. Fui amadurecendo até que, neste ano, depois de
muitas idas e vindas, entendi que a parte de tecnologia dos sistemas deveria
ser encaminhada para uma empresa forte e com estrutura, para trabalharmos em
parceria; convites foram chegando, mas foi na Exactus que encontrei o caminho,
uma empresa que tinha visto um sistema de folha, ainda em 1992. Atualmente com
42 anos de estrada, a Exactus, brevemente conhecida por aquele jovem de 17
anos, é um referencial e fazer parte dela, como representante, 20 anos depois,
é uma agradável coincidência. Uma das coisas que fazem a Exactus ser uma
empresa diferenciada é entender a situação de cada representante, sem impor
exigências que só seriam boas para um lado. Então, vamos conviver em perfeita
sincronia, implantando a Linha TOP for Windows e mantendo normalmente o
SEIFolha e o Infrasoft, deixando a decisão de usar cada sistema, para os
clientes.
Nestes
20 anos de caminhada, aprendi que sistemas são realmente bons, se forem
adequadamente parametrizados e bem operados por pessoal qualificado. Não
adianta ter um sistema avançado, sem recursos humanos para compreende-lo e
domina-lo. O melhor exemplo que tenho é de um escritório que recentemente me
procurou e que desde 1998, já trocou cinco vezes de sistema e que somente
agora, aprendeu que, o problema central não estava nos sistemas, e sim na falta
de humildade em reconhecer que os colaboradores e o proprietário estavam
precisando mesmo era de uma reciclagem geral.
O
que lamento é o “marketing de guerrilha” (termo usado por Dr. Romeu, da
Exactus, para empresas que agridem suas concorrentes). No meu contexto,
“marketing de guerrilha” tem acontecido quando algumas empresas de softwares
contábeis, com poucos anos de estrada; aproveitando a busca pela qualificação
de muitos escritórios, prometem soluções
rápidas e mirabolantes, desdenhando nossos produtos (que falta de ética!),
quando na verdade, o que vai resolver mesmo é o conhecimento aplicado pelo
capital humano bem firmado e o trabalho árduo de quem usa os sistemas, de quem
dá o suporte e de quem desenvolve. Não existe solução mágica. Muitas dessas
empresas de tecnologia, exploram o desconhecimento sobre o SPED para disseminar
inverdades, e o resultado tem sido somente este: decepção entre o que foi
prometido e o que está sendo realizado.
Muitas decepções são causadas pela ingenuidade de alguns que acreditam
que um sistema “vai fazer quase tudo sozinho”, mas quando se deparam com a
realidade de que é preciso haver um entendimento sobre os fundamentos da
contabilidade, esbarram em si mesmos.
É
preciso, antes de tudo, acabar com o medo de ter colaboradores qualificados;
falo em medo ao ouvir de um contador que “não se deve dar asas às cobras”, como
se um profissional bem qualificado fosse sinônimo de ameaça para o escritório
por pensar que “ele vai querer abrir um escritório depois e levar os meus
clientes, então prefiro os que não sabem quase de nada”. Discordo totalmente
dessa linha de raciocínio e não quero dizer com isso que os inexperientes não
devem ser aproveitados; eles devem ter oportunidades ao lado de quem possa
transmitir experiências sob um projeto bem definido de escritório.
Outro
fator que atrapalha o desenvolvimento de um escritório contábil está na falta
de reconhecimento ao talento: é preciso repensar a política salarial e a
distribuição de lucros, para incentivar o profissional qualificado a produzir
cada vez mais com eficiência. Escritório que paga bem e que tem idéias
inovadoras sobre “reconhecimento de produtividade” irá tomar a ponta nesta era
de tecnologias intensamente desejadas, onde o diferencial estará em quem estiver
dominando os saberes.
Para
finalizar: é preciso parar com essa “neura” de achar que “tudo é o sistema”.
Fiquei feliz ao ver um profissional de recursos humanos submeter alguns
candidatos a testes com cálculos manuais de rotinas contábeis, fiscais e trabalhistas.
Os candidatos foram pegos de surpresa porque achavam que os conhecimentos que
tinham sobre alguns sistemas famosos e badalados, seria o fator determinante.
Muitos especialistas em “sistemas de grife” foram reprovados quando tiveram que
ir para a “ponta do lápis”. Sábia decisão do analista de recursos humanos, pois
acabou achando profissionais que sabem dos fundamentos e não apenas de produtos
tecnológicos, por mais sofisticados que sejam.
Moral
da história: um sistema é apenas uma parte de uma engrenagem bem maior que faz
um escritório funcionar corretamente; é uma ferramenta de trabalho, que
juntamente com o intelecto de cada colaborador, poderá compor uma equipe de
muito sucesso. É neste ponto que alerto sobre o cuidado que precisamos ter com
o marketing das empresas de softwares...
Então,
este aprendizado profissional de duas décadas só foi possível porque Dona
Eliane e “Dilsinho” tiveram a ousadia, apesar de tantas dificuldades e
provações, de acreditar em um futuro melhor e se doaram, sacrificando muitos de
seus prazeres pessoais para investir na formação dos filhos. É neste exemplo de
vida que me esforço para ser o que eles foram para mim e meu irmão.
Ao
completar 20 anos no mercado, devo esta conquista primeiramente a Deus e em
seguida, aos meus pais, Dona Eliane e Dilsinho.
A
quem honra, honra!
Soli
Deo gloria,
Feliz
Natal!
Feliz
2013!
Leonardo Amorim.